29 novembro 2011
na estrada
Sábado passado, uma viatura vinda de uma rua perpendicular àquela em que eu circulava, passou um sinal vermelho e não me deu tempo para parar, provocando alguns danos materiais e muitos contratempos. O principal contratempo do incidente (nem acidente lhe posso chamar) deve-se ao facto de o outro condutor não estar segurado e ter agora que suportar os danos do bolso dele - vamos ver como, a reparação deve orçar nuns 2 anos de um salário pouco generoso...
Este episódio, aliado àquele ocorrido há umas semanas, em que constatei na primeira pessoa que assistência em estrada apenas existe em self-service, fez com que me apetecesse fotografar o carro e dissertar sobre o assunto.
Sexta-feira passada, ao final da tarde, estive reunido com o condutor deste carro, um promissor jovem profissional de talvez 24 anos.
Nesta terra, é fundamental não ter avarias nem indicentes. E, muito menos, acidentes.
RIP Aly.
21 novembro 2011
devagar - part IV
Para que possa ser feito o seguro das instalações, a seguradora quer saber a área a segurar – em m2. Como a planta existente não é exaustiva, pedi aqui à Graciete para medir a sala não constante da planta. Receoso dos habituais enganos e faltas de entendimento sobre o objectivo de tarefas simples, completei o “Preciso de saber a área da sala lá de trás” com um mais exemplificativo “Pegas na fita e medes da porta até à parede lá de trás; depois, medes da parede do lado esquerdo até à parede do lado direito”, pensando que desse modo mais dificilmente iria ter problemas com o resultado.
Volvidos talvez 5 minutos, a Graciete estava de volta com as medidas. “Da porta até lá atrás são 500; da parede da esquerda até à parede da direita são 500” – a fita é em cm, pelo que entendi a medida. Preparava-me para tomar nota e informar a seguradora em conformidade quando ela acrescenta “mas da parede da esquerda até à parede da direita não são 500”. “Não são 500? Então?”, digo eu, ao que ela me retribui “São 500 e mais um palmo”.
Depois da gargalhada quase geral, em que a própria Graciete participou, perguntei em tom jocoso se o palmo era dela, ao que ela responde “Não, por acaso era do Celso, que era quem estava do outro lado da fita”, preparando-se para o chamar para lhe medirmos o palmo e tornar rigorosa a medida.
Até hoje, não cheguei a entender se os “500 e mais um palmo” se ficou a dever a uma falha no conhecimento da utilização de uma fita métrica de 5 m para medir uma distância superior à dimensão da fita (possível, mesmo frequentando ela o 2º ano de engenharia), ou se à tradição, local e pessoal (dela) em fazer as coisas sem esforço. Ou então sou mesmo eu quem anda muito depressa…
ressano garcia
Na Europa, que hoje tanto se discute, estamos habituados a viajar entre países sem qualquer tipo de preocupação ou limitação; aqui, tal como num passado europeu não assim tão distante, temos que dar contas ao estado sobre de onde, quanto tempo e para onde, não podendo os visitantes permanecer no país mais do que 30 dias consecutivos. Esta realidade obrigou a mais uma deslocação à África do Sul, apenas para cumprimento dessa formalidade.
Uma vez atravessada a fronteira e a bem das aparências (as travessias de fronteira devem ter outra finalidade teórica que não o visto), decidimo-nos por permanecer do outro lado durante cerca de uma hora, e mesmo não sendo complicado ter uma permanência mais curta que aquele minuto que dispendi há coisa de um ano, foi a única vez que atravessei uma fronteira apenas para ir a um restaurante de fast-food - um KFC à moda local, com molho picante.
No regresso, o primeiro funcionário embirrou com a quantidade de vistos de um dos passaportes, o que nos deixou apreensivos quanto à possibilidade de reentrada e sem qualquer motivo para sorrisos - pelo menos até à chegada de um chefe de semblante austero, cuja placa de identificação quase nos fez desmanchar a rir. Mas a cara de poucos amigos revelou-se enganadora, já que o chefe Tototo emitiu novos vistos sem levantar qualquer tipo de objecções.
(não, não me recordo do primeiro nome dele - como poderia?)
20 novembro 2011
14 novembro 2011
tofo
Perto da cidade de Inhambane e perto de um dos destinos já visitados, a praia do Tofo, perto da vila com o mesmo nome, é destino quase obrigatório para quem gosta de praia – e, embora não seja o caso, de desportos de prancha. Por isso, desde há umas semanas, combinámos um fim de semana por aquelas paragens e programámos os 600 km de viagem até lá. E foi assim:
14:00, partida – virtude (?) dos atrasos femininos com as malas e os preparos de última hora, apenas hora e meia depois da hora programada. Coleman cheio e tempo não demasiado quente, o que vai ajudar na viagem.
14:50: distrito de Marracuene. Desta vez, talvez também por na véspera se terem comemorado os 124 anos da cidade de Maputo de muitos terem gozado uma rara ponte, atravessar Benfica e o Zimpeto revelou-se bem mais rápido que o habitual.
14:55: ainda no distrito de Marracuene, parados pela polícia por conduzir a 101 km/h numa zona de 60. Como o código da estrada foi recentemente revisto, os refrescos aumentaram de modo directamente proporcional às multas, tendo a brincadeira custado 1500 Mtn. De qualquer modo, pelo preço consegui saber onde estavam as patrulhas na província de Gaza.
16:20, travessia do Limpopo e da cidade do Xai-Xai. Aqui o clima está bem mais quente que em Maputo e sem o vento habitual da cidade.
17:10, num local não indicado pelos primeiros, parados por nova patrulha por conduzir a… 101 km/h numa zona de 60. Ou eles têm aquilo bem montado, ou eu tenho uma condução muito uniforme, foram mais 1500 Mtn e seguimos viagem, supostamente com mais informações sobre as patrulhas seguintes já em território de Inhambane.
17:35, final de dia e em plena N1, na zona de Zanvamela (eu também não sei onde fica…), a cento e não muitos km/h: a luz do óleo acende. Ponto morto, motor desligado, deve ser nível de óleo baixo – o motor consome algum óleo – e parámos. Capot aberto, a vareta seca, toca de abastecer o cárter com algum… que cai todo para o chão: o bujão do óleo tinha saltado fora.
17:47. À quinta tentativa, atendem-me o telefone, “Procura aí no Google um serviço de reboques, um serviço de táxis, ou um rent-a-car aqui na zona do Quissico”, “Quissico?”, “Sim, fica a uns 150 km a norte de Xai-Xai”, “Ok, deixa lá ver, já te ligo”, mas os telefonemas de nada serviriam, o Google não sabe sequer onde fica o Quissico. A esta hora importa também comunicar com o hotel a informar que vamos chegar tarde (vamos?), mais um telefonema e do lado de lá dizem que falam português, inglês e coreano (coreano?), mas que preferem inglês, que estão mais habituados.
E foi em inglês que explicámos, que não iríamos chegar a horas, talvez ele pudesse aconselhar um táxi, um reboque, qualquer coisa, que era noite e não nos apetecia dormir no carro, ali naquele ermo, naquele traço de alcatrão que atravessa a selva; e, em inglês, aconselhou-nos não o táxi, mas a dormir ali mais perto, que ia dar-nos o telefone de um lodge no Quissico, que era mais prudente ficar por ali e não tentar fazer os restantes quase 200 km naquele dia. E, agora em português, mas com saudades daquele que falava coreano e inglês, conseguimos a custo uma reserva no tal lodge e o telefone de um tal de Horácio, que era primo de alguém e que tinha forma de nos rebocar.
20: 18 O Horácio, a quem interrompi o jantar em família, fez comigo o negócio do mês: cobrou 2500 Mtn para nos rebocar com uma corrente de uns 2 m (eu quase nem via o pára-choques da carrinha dele) os 22 km que nos separavam do Quissico e deixou que parássemos o carro avariado à porta de casa dele, que era “mais seguro, aqui ninguém mexe no carro”. Agora, já que estava incluído no preço, só faltava levar-nos até ao tal de Eco Logde da Lagoa.
22:00 Se ficar parado em plena N1 era cenário pouco agradável, sermos conduzimos por um desconhecido Horácio e pelo ajudante Alcides durante 45 minutos através de um caminho sem luz, sem alcatrão – basicamente, sem caminho, a ouvir o Enrique Iglesias a pleno pulmão, sem sequer saber se nos levava efectivamente ao lodge ou se nos conduzia a um ermo mais ermo ainda, onde fossemos desapossados dos nossos pertences, foi cenário que me retirou uns bons meses de vida.
O lodge, Eco, dizem eles, que é coisa da qual não sou adepto: sem electricidade, sem fechadura na porta do quarto, que aqui é tudo amigo e vive-se em paz, com redes a servir de janelas, com um balde a servir de duche, que tínhamos que voltar a encher “lá fora”, com uma cozinha comum em regime de “usas, escreves no caderno, lavas a loiça que usares e pagas no final” – mas pareceu um verdadeiro oásis ao fim de seis horas de um deserto imprevisto!
Às 6:00 da manhã seguinte estávamos a pé. Um português mais corajoso que eu (dormiu no lodge por escolha), deu-nos boleia na parte de trás da pick-up dele - em rigor, a “senhora pode ir lá dentro, para si é que não tenho espaço”, e ainda falam na igualdade dos sexos; de qualquer modo, foi um passeio agradável, e pelas 10:00, já de pequeno almoço tomado no local mais improvável da minha vida, uma sandwich de ovo estrelado (ainda estou vivo, os ovos não estavam estragados), estávamos junto ao carro a negociar com um novo interveniente, um mecânico que até sabia do assunto, que trouxe um óleo que custava metade do preço que me cobrou e um bujão que me custou ainda mais, mas pronto, naquele local e àquela hora não havia escolha e tinha mesmo que ser.
Para além do lodge, a lagoa do Quissico era linda e valia a pena regressar lá, agora com o óleo bem seguro dentro do cárter e com a necessidade de fazer um teste fora-de-estrada para garantir que podíamos regressar a casa. Entre a lagoa, o mar e a estrada de volta, acabou por ser um sábado bem sucedido!
O Tofo vai ter que ficar para depois…
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