11 dezembro 2011

07 dezembro 2011

rumo a Sul

Da cidade ao extremo sul do país são apenas uma centena de quilómetros, que se percorrem calmamente em 3 horas. Já tínhamos ido para aqueles lados, mas a descoberta de um site que anunciava um resort recentemente inaugurado fez com que quiséssemos repetir a viagem.
Desta vez, por causa de um pontão que se afundou no ancoradouro da Catembe, foi necessário fazer o trajecto totalmente por estrada, o que acrescentou uns 60 km ao percurso.
A estrada continua na mesma, pó atrás de pó, mas nesta ocasião dois zangados representantes da espécie fizeram-nos acreditar que a “Reserva dos Elefantes”, a uma escassa trintena de quilómetros da capital, tem mais do que apenas o nome. De resto, o caminho fazia-se tranquilamente e podíamos recordar que a paisagem tem uma vegetação menos densa e é menos habitada que para norte. Percorridos 140 dos 160 km, era necessário fazer um desvio a leste – o destino não era exactamente o mesmo que o da viagem anterior – e fomos surpreendidos por um pedaço de alcatrão, herança lusitana seguramente com meio século e sem qualquer tipo de manutenção.
A alegria por regressar ao alcatrão e a expectativa de dar um merecido descanso à suspensão da camioneta e às nossas costas rapidamente se desvaneceu, uma vez que a falta de manutenção tornava a estrada intransitável, sendo mais seguro e confortável utilizar as bermas, entretanto transformadas em estrada alternativa – e fazendo com que a velocidade média baixasse ainda mais e com que o carro chegasse ao destino com uma cor nova.
Mas felizmente o alcatrão depressa desapareceu e pudemos voltar ao conforto da areia que nos conduziu ao portão de acesso ao resort, onde sabiam o meu nome (?). Já nas ruas pavimentadas do resort, fomos recebidos em português (coisa rara nestas paragens) não por um, mas por dois “hospedeiros”. Para a nossa recepção, tinham preparado um welcome drink, um briefing sobre as piscinas, os bares, o restaurante e, importante, sobre as actividades (começava a notar-se que, apesar de saberem o meu nome, não faziam ideia de quem sou: actividades? Nos tempos livres, gosto mesmo é de fazer NADA, e nisso sou quase perfeito!). O briefing finalizava com a entrega de um telefone móvel, com o número do nosso mordomo em speed-dial, para “qualquer coisa que precisem, 24/7”.
Depois, era só ir até ao quarto. E ficar de boca aberta, quer olhando para dentro (1) (2), quer olhando para fora. O resort é constituído por 22 quartos/casas, harmoniosamente dispostas na encosta virada a nascente, com o mar pela frente. Cada uma delas dista uns 15 metros da próxima, o que confere um grau razoável de privacidade à estadia.
Ah, é verdade, faltava falar desta piscina, só para nós...
Depois de finalmente nos deixarem em paz, pudemos ir apreciar a praia, vazia, tomar banho a uma temperatura agradável e, ao pôr do Sol, jantar. Como estava bom tempo, decidiram que os hóspedes gostariam mais de um braai na praia e trataram de colocar as mesas lá fora, na areia, acender as brasas e atirar com um deliciosos pedaços de carne, peixe e marisco para cima da grelha. Não me queixei, embora não tivesse constituído uma refeição memorável.
O dia seguinte começou cedo, na nossa piscina, seguido de generoso mata-bicho, em que the sky was the limit: claro que exagerei. Check-out, praia até às 15h e rumar a casa, que à noite não se conseguem ver os buracos na "estrada".



Algumas fotos foram propositadamente ocultadas, por causa de eventuais leitores mais sensíveis a imagens demasiado agradáveis.

30 novembro 2011

bless the rains in africa

trabalho

Afinal, nesta terra quem trabalhe.

29 novembro 2011

na estrada

Sábado passado, uma viatura vinda de uma rua perpendicular àquela em que eu circulava, passou um sinal vermelho e não me deu tempo para parar, provocando alguns danos materiais e muitos contratempos. O principal contratempo do incidente (nem acidente lhe posso chamar) deve-se ao facto de o outro condutor não estar segurado e ter agora que suportar os danos do bolso dele - vamos ver como, a reparação deve orçar nuns 2 anos de um salário pouco generoso...
Este episódio, aliado àquele ocorrido há umas semanas, em que constatei na primeira pessoa que assistência em estrada apenas existe em self-service, fez com que me apetecesse fotografar o carro e dissertar sobre o assunto. 
Ontem de manhã, soube desta notícia.
Sexta-feira passada, ao final da tarde, estive reunido com o condutor deste carro, um promissor jovem profissional de talvez 24 anos.
Nesta terra, é fundamental não ter avarias nem indicentes. E, muito menos, acidentes.
RIP Aly.

21 novembro 2011

devagar - part IV

Para que possa ser feito o seguro das instalações, a seguradora quer saber a área a segurar – em m2. Como a planta existente não é exaustiva, pedi aqui à Graciete para medir a sala não constante da planta. Receoso dos habituais enganos e faltas de entendimento sobre o objectivo de tarefas simples, completei o “Preciso de saber a área da sala lá de trás” com um mais exemplificativo “Pegas na fita e medes da porta até à parede lá de trás; depois, medes da parede do lado esquerdo até à parede do lado direito”, pensando que desse modo mais dificilmente iria ter problemas com o resultado.
Volvidos talvez 5 minutos, a Graciete estava de volta com as medidas. “Da porta até lá atrás são 500; da parede da esquerda até à parede da direita são 500” – a fita é em cm, pelo que entendi a medida. Preparava-me para tomar nota e informar a seguradora em conformidade quando ela acrescenta “mas da parede da esquerda até à parede da direita não são 500”. “Não são 500? Então?”, digo eu, ao que ela me retribui “São 500 e mais um palmo”.
Depois da gargalhada quase geral, em que a própria Graciete participou, perguntei em tom jocoso se o palmo era dela, ao que ela responde “Não, por acaso era do Celso, que era quem estava do outro lado da fita”, preparando-se para o chamar para lhe medirmos o palmo e tornar rigorosa a medida.
Até hoje, não cheguei a entender se os “500 e mais um palmo” se ficou a dever a uma falha no conhecimento da utilização de uma fita métrica de 5 m para medir uma distância superior à dimensão da fita (possível, mesmo frequentando ela o 2º ano de engenharia), ou se à tradição, local e pessoal (dela) em fazer as coisas sem esforço. Ou então sou mesmo eu quem anda muito depressa

ressano garcia

Na Europa, que hoje tanto se discute, estamos habituados a viajar entre países sem qualquer tipo de preocupação ou limitação; aqui, tal como num passado europeu não assim tão distante, temos que dar contas ao estado sobre de onde, quanto tempo e para onde, não podendo os visitantes permanecer no país mais do que 30 dias consecutivos. Esta realidade obrigou a mais uma deslocação à África do Sul, apenas para cumprimento dessa formalidade.
Uma vez atravessada a fronteira e a bem das aparências (as travessias de fronteira devem ter outra finalidade teórica que não o visto), decidimo-nos por permanecer do outro lado durante cerca de uma hora, e mesmo não sendo complicado ter uma permanência mais curta que aquele minuto que dispendi há coisa de um ano, foi a única vez que atravessei uma fronteira apenas para ir a um restaurante de fast-food - um KFC à moda local, com molho picante.
No regresso, o primeiro funcionário embirrou com a quantidade de vistos de um dos passaportes, o que nos deixou apreensivos quanto à possibilidade de reentrada e sem qualquer motivo para sorrisos - pelo menos até à chegada de um chefe de semblante austero, cuja placa de identificação quase nos fez desmanchar a rir. Mas a cara de poucos amigos revelou-se enganadora, já que o chefe Tototo emitiu novos vistos sem levantar qualquer tipo de objecções.

(não, não me recordo do primeiro nome dele - como poderia?)

20 novembro 2011

CFM


O terminal da ferrovia que liga Joanesburgo a Moçambique e que está na génese da cidade.

14 novembro 2011

tofo

Perto da cidade de Inhambane e perto de um dos destinos já visitados, a praia do Tofo, perto da vila com o mesmo nome, é destino quase obrigatório para quem gosta de praia – e, embora não seja o caso, de desportos de prancha. Por isso, desde há umas semanas, combinámos um fim de semana por aquelas paragens e programámos os 600 km de viagem até lá. E foi assim:
14:00, partida – virtude (?) dos atrasos femininos com as malas e os preparos de última hora, apenas hora e meia depois da hora programada. Coleman cheio e tempo não demasiado quente, o que vai ajudar na viagem.
14:50: distrito de Marracuene. Desta vez, talvez também por na véspera se terem comemorado os 124 anos da cidade de Maputo de muitos terem gozado uma rara ponte, atravessar Benfica e o Zimpeto revelou-se bem mais rápido que o habitual.
14:55: ainda no distrito de Marracuene, parados pela polícia por conduzir a 101 km/h numa zona de 60. Como o código da estrada foi recentemente revisto, os refrescos aumentaram de modo directamente proporcional às multas, tendo a brincadeira custado 1500 Mtn. De qualquer modo, pelo preço consegui saber onde estavam as patrulhas na província de Gaza.
16:20, travessia do Limpopo e da cidade do Xai-Xai. Aqui o clima está bem mais quente que em Maputo e sem o vento habitual da cidade.
17:10, num local não indicado pelos primeiros, parados por nova patrulha por conduzir a… 101 km/h numa zona de 60. Ou eles têm aquilo bem montado, ou eu tenho uma condução muito uniforme, foram mais 1500 Mtn e seguimos  viagem, supostamente com mais informações sobre as patrulhas seguintes já em território de Inhambane.
17:35, final de dia e em plena N1, na zona de Zanvamela (eu também não sei onde fica…), a cento e não muitos km/h: a luz do óleo acende. Ponto morto, motor desligado, deve ser nível de óleo baixo – o motor consome algum óleo – e parámos. Capot aberto, a vareta seca, toca de abastecer o cárter com algum… que cai todo para o chão: o bujão do óleo tinha saltado fora.
17:47. À quinta tentativa, atendem-me o telefone, “Procura aí no Google um serviço de reboques, um serviço de táxis, ou um rent-a-car aqui na zona do Quissico”, “Quissico?”, “Sim, fica a uns 150 km a norte de Xai-Xai”, “Ok, deixa lá ver, já te ligo”, mas os telefonemas de nada serviriam, o Google não sabe sequer onde fica o Quissico. A esta hora importa também comunicar com o hotel a informar que vamos chegar tarde (vamos?), mais um telefonema e do lado de lá dizem que falam português, inglês e coreano (coreano?), mas que preferem inglês, que estão mais habituados.
E foi em inglês que explicámos, que não iríamos chegar a horas, talvez ele pudesse aconselhar um táxi, um reboque, qualquer coisa, que era noite e não nos apetecia dormir no carro, ali naquele ermo, naquele traço de alcatrão que atravessa a selva; e, em inglês, aconselhou-nos não o táxi, mas a dormir ali mais perto, que ia dar-nos o telefone de um lodge no Quissico, que era mais prudente ficar por ali e não tentar fazer os restantes quase 200 km naquele dia. E, agora em português, mas com saudades daquele que falava coreano e inglês, conseguimos a custo uma reserva no tal lodge e o telefone de um tal de Horácio, que era primo de alguém e que tinha forma de nos rebocar.
20: 18 O Horácio, a quem interrompi o jantar em família, fez comigo o negócio do mês: cobrou 2500 Mtn para nos rebocar com uma corrente de uns 2 m (eu quase nem via o pára-choques da carrinha dele) os 22 km que nos separavam do Quissico e deixou que parássemos o carro avariado à porta de casa dele, que era “mais seguro, aqui ninguém mexe no carro”. Agora, já que estava incluído no preço, só faltava levar-nos até ao tal de Eco Logde da Lagoa.
22:00 Se ficar parado em plena N1 era cenário pouco agradável, sermos conduzimos por um desconhecido Horácio e pelo ajudante Alcides durante 45 minutos através de um caminho sem luz, sem alcatrão – basicamente, sem caminho, a ouvir o Enrique Iglesias a pleno pulmão, sem sequer saber se nos levava efectivamente ao lodge ou se nos conduzia a um ermo mais ermo ainda, onde fossemos desapossados dos nossos pertences, foi cenário que me retirou uns bons meses de vida.
O lodge, Eco, dizem eles, que é coisa da qual não sou adepto: sem electricidade, sem fechadura na porta do quarto, que aqui é tudo amigo e vive-se em paz, com redes a servir de janelas, com um balde a servir de duche, que tínhamos que voltar a encher “lá fora”, com uma cozinha comum em regime de “usas, escreves no caderno, lavas a loiça que usares e pagas no final” – mas pareceu um verdadeiro oásis ao fim de seis horas de um deserto imprevisto!


Às 6:00 da manhã seguinte estávamos a pé. Um português mais corajoso que eu (dormiu no lodge por escolha), deu-nos boleia na parte de trás da pick-up dele - em rigor, a “senhora pode ir lá dentro, para si é que não tenho espaço”, e ainda falam na igualdade dos sexos; de qualquer modo, foi um passeio agradável, e pelas 10:00, já de pequeno almoço tomado no local mais improvável da minha vida, uma sandwich de ovo estrelado (ainda estou vivo, os ovos não estavam estragados), estávamos junto ao carro a negociar com um novo interveniente, um mecânico que até sabia do assunto, que trouxe um óleo que custava metade do preço que me cobrou e um bujão que me custou ainda mais, mas pronto, naquele local e àquela hora não havia escolha e tinha mesmo que ser.
Para além do lodge, a lagoa do Quissico era linda e valia a pena regressar lá, agora com o óleo bem seguro dentro do cárter e com a necessidade de fazer um teste fora-de-estrada para garantir que podíamos regressar a casa. Entre a lagoa, o mar e a estrada de volta, acabou por ser um sábado bem sucedido!






O Tofo vai ter que ficar para depois…








28 outubro 2011

 



26 outubro 2011

polícia

Por cá, a segurança pública é garantida pelos agentes da PRM, vulgarmente conhecidos como “cinzentos”, ou “cinzentinhos”, por causa da cor dos uniformes que envergam.
São indivíduos maioritariamente jovens, muitos deles aparentando ter não mais do que 16 anos, seguramente sem qualquer treino no manuseamento das velhas Kalashnikov AK-47 que carregam para todo o lado; para além do tempo que passam a rondar as ruas em cima das pernas, são por vezes transportados em cima de umas pick-up, sentados costas com costas em dois bancos de jardim que adicionaram à caixa de carga, pick-up essa conduzida por um dos tais adolescentes, com uma formação tão profunda em condução quanto o treino que têm nas AK, que os faz cometer toda a espécie de infracções e, em caso de emergência, coloca em perigo particularmente os ocupantes dos bancos de jardim que transportam. Talvez seja este modo de transporte que quando contabilizado conjuntamente com a baixa esperança média de vida registada no país que faça com que a idade de admissão destes desgraçados seja tão baixa. Um outro critério de admissão que importa referir é um QI nunca acima de 75 – estou a ser simpático. Claro que isto tudo junto resulta num salário miserável, o que faz com que eles tenham que encontrar expedientes adicionais para adicionar alguns meticais aos 2 mil e poucos que levam formalmente para casa no final de cada mês (a taxa de câmbio actual, favorável ao metical por virtude da queda do euro ao longo do último ano é de 38 MTN = 1 EUR).
O expediente mais comum é a intimidação. Na cidade, facilmente se encontra um turista com um ar tenrinho, a quem facilmente se encontra um defeito na impressão do passaporte, um carimbo de entrada pouco legível, ou mesmo um simples “temos que falar na esquadra”; é claro que para um incauto, dois ou mais cinzentos armados até aos dentes, ainda que com armas ferrugentas que mais facilmente nos matariam de tétano do que com uma munição que disparassem, constitui um cenário suficientemente assustador – e a “multa” é suficientemente barata. Para além da intimidação, existem a pedinchice do género “Boss, ajuda lá para comprar pão”, processo não ostensivo mas seguramente irritante; a imensa lata que se pode materializar num “Tens os documentos em dia?", "Tenho", "Então dá lá mola para comprar uma cerveja”; e a criatividade, que constitui o melhor género, claramente digno de remuneração.
Um domingo, oito da manhã, avenida 25 de Setembro totalmente vazia (a 25 de Setembro tem duas faixas para cada lado e separador); semáforo vermelho, no qual eu paro. Arranco ao verde e, depois de engrenada a 2ª, talvez com a camioneta a 30 km/h, mandam-me parar. “Documentos”, que receberam, leram e devolveram, com um “Está tudo bem…”, logo seguido de um “… mas vou ter que te multar”. “Multar? Porquê?”, “Fizeste manobra perigosa”, “Desculpa? Arranquei com o verde, vinha a 30 à hora e a direito numa rua destas…”, “Pois, mas fizeste manobra perigosa: parecia MESMO que ias virar… e não viraste.”

21 setembro 2011

chapa

“Chapa” é a designação local para um transporte que julgo existir não apenas em Moçambique, mas em África.
O chapa é, oficialmente, um transporte semi-público, qualquer coisa como um táxi colectivo, ou ainda, se quisermos ser simpáticos, um minu-bus para todos. Na realidade, trata-se de um furgão de passageiros, invariavelmente uma Toyota Hiace nas suas diferentes versões (chassis curto, longo, tecto normal, tecto alto, 4x2, 4x4..), homologada localmente para 15 lugares (na Europa seriam nove) e que transportam passageiros dentro de um trajecto pré-estabelecido. Têm uma tarifa fixa que, dependendo do trajecto, varia entre os cinco e os dez meticais – pelo menos aqui na região de Maputo.
Uma vez que a única manutenção que lhes é feita é constutuída pelas múltiplas lavagens de que são alvo (terei que dedicar umas linhas aos lavadores, mas isso será noutra ocasião), o estado de conservação das mencionadas Hiace, que estarão certamente a atingir a maioridade, com uma idade média superior aos 15 anos, é muito pior do que se consiga imaginar, e nem a quantidade imensa de acessórios e autocolantes que lhes colocam parece ajudar. Os autocolantes, para além daqueles que indicam o trajecto, vão desde o nome do condutor, o clube do condutor (têm 3 tentativas para adivinhar qual, para ajudar digo que jogam de vermelho…), a temas religiosos (“Jesus é o Salvador” e outras frases relacionáveis com a IURD); os acessórios vão das inevitáveis jantes brilhantes, a raquetes de ténis presas na grelha frontal, a faróis de outros carros muito mal adaptados, passando pelos necessários arames, que impedem a queda de alguns componentes, indo até ao óbvio equipamento de som, o mais potente que possam comprar.
O chapa é operado por um condutor e por um ajudante, que é quem controla a entrada e saída dos passageiros, abrindo e fechando (nem sempre…) a porta de correr, e quem cobra os bilhetes. Faz também papel de relações públicas, chamando clientes nas paragens oficiosas sempre que os treze lugares sentados (quinze menos o condutor e o ajudante) têm menos que uns 25 ocupantes – nunca contei, mas pela forma como a suspensão do chapa dobra quando vão menos vazios, estimo a capacidade daquelas máquinas indestrutíveis em cerca de 40 almas, sendo que o conceito de “cheio” não existe aqui, cabe sempre mais um, pendurado na porta que não fecha, ou quase fora janela, que abre para alojar o generoso traseiro de uma passageira.
O chapa é também como é vulgarmente conhecido o condutor do dito chapa. Não é necessariamente detentor de carta de condução, mas é de uma forma geral um indivíduo arrojado, sem medo de usar óculos escuros à noite, sem medo de sinais vermelhos, bermas, passeios, outros carros, ou mesmo de peões nas respectivas passadeiras, passando por cima de toda a folha e ao lado de toda a fila de trânsito, proporcionando aos passageiros uma viagem mais célere até ao destino – e a eles próprios a oportunidade de voltar a encher novamente o chapa.
Corajosos são mesmo os passageiros, obrigados a aturar o aroma da axila do vizinho – ou da virilha, consoante a posição, estilo de condução imparável do condutor e os consequentes impropérios dos demais utentes da rodovia, a preferência musical do proprietário, divulgada num volume que esconde qualquer um dos muitos ruídos mecânicos da viatura, e, last but not least, o estado de conservação do chapa: é que, todos os dias, vemos alguns deles a ser empurrados pelos passageiros, que pagaram bilhete para o efeito.

13 setembro 2011

05 agosto 2011

27 junho 2011

Por cá até se está bem, apesar de mais baixa a temperatura invernal continua a permitir t-shirt e calções, o camarão não faz parte das espécies protegidas (não deve haver nenhuma, para o efeito, nem a humana), pode pescar-se o ano todo, a única diferença que faz mesmo diferença é a prematura hora do ocaso, que causa uma sensação desagradável.
Mas mesmo estando-se bem e mesmo gostando de estar por cá, onde as histórias de morrer a rir acontecem a um ritmo quase diário (como eu digo, estes gajos são lindos!), mesmo com todas as vantagens gastronómicas e climáticas que possamos relatar, apesar da tranquilidade com que os dias correm, a melhor coisa que ainda vou conseguindo encontrar aqui é um avião que rume à Europa.
E faltam 72 horas para o próximo!

23 maio 2011

inverno


Está a começar!

16 maio 2011

pomene

ou
por terras nunca antes percorridas

Do Maputo onde me encontro até à capital provincial mais a norte de Moçambique são quase três mil quilómetros, uma distância equivalente à de Lisboa a Hamburgo, o que torna a vontade que tenho de conhecer toda a costa num objectivo ambicioso. Ainda assim, vou metendo mãos à obra, ou no volante, e vou dedicando algumas horas a esse objectivo - e, claro, muitas à estrada.

Desta vez, embora os seiscentos quilómetros tenham sido apenas mais cem que os do destino anterior, foram mais duas horas e tal de viagem: hora e meia para os primeiros trinta, por causa do trânsito, das obras e das cartas de condução que até a farinha Amparo teria vergonha de oferecer; quatro horas e meia para os quinhentos seguintes, em estrada de boa qualidade e sem demasiado trânsito; uma hora para os sessenta que se seguiram, em estrada de terra; e, finalmente, uma hora para os últimos dez, numa estrada (?) em areia, atravessando uma reserva natural. O folheto bem que prometia um local exclusivo - e agora entendia-se porquê...

Trata-se de uma península, situada ainda na província de Inhambane mas a norte da outra península que dá o nome à província, no distrito de Massinga - logo ali a seguir a Capricórnio, para quem vem de sul, não sei se estão a ver? O resort fica mesmo no extremo da península, tão no extremo que nas traseiras da casa temos a praia a vinte metros e mesmo em frente fica a baía: ou seja, podemos escolher ondas e água menos quente, ou águas menos agitadas e a uma temperatura mais elevada. Ah, é verdade, aquilo é alimentado por gerador, por isso lights out a partir das 22h e toca a dormir - o que depois de 8 horas na camioneta até me pareceu boa ideia.
A praia? A maçada do costume: éramos nós, um cão e a dona do cão. Nesta, nem sequer apareceram os habituais vendedores a impingir aquelas coisas que até compraríamos se não nos chateassem tanto; apareceram, isso sim, nuvens que traziam água e que a iam deixando cair, mas nem isso nos demoveu de ficar ali um par de horas a usufruir da paisagem e da exclusividade do local.

No dia seguinte e para encurtarmos o indesejado regresso, rumámos à Barra, que já conhecíamos. Tem a clara desvantagem de não ser tão exclusivo, mas tem o benefício de ter um chef que nos deixa de rastos depois de um three course meal para jantar, de não permitirem a entrada a crianças (bem... a algumas...) e de terem o tal carrinho de golfe que nos leva a todo o lado. A praia tem também o problema de estar mais lotada - desta vez estava cheia, com umas doze pessoas naquela dezenas de quilómetros de areal, que aborrecido terem aparecido todos naquele fim de semana.

A presença dos vendedores pode por vezes ser aborrecida: mas quando vendem "pulseiras" tão belas quanto estas, quem é que os pode levar a mal?

26 abril 2011

Na primeira visita ao Kruger Park não consegui tantos como agora, com os meus outros favourite allies.
Sendo complicado conseguir os "big five" numa visita, desta vez deu para ver as cabeças de uns 3 leões que preguiçavam no capim, pelo que lográmos os quatro maiores.


Alguns deles assustadoramente perto… tal como este simpático paquiderme, integrado numa abundante família que achou por bem atravessar a estrada sem avisar e fora duma passadeira – o que não devíamos ter estranhado, é hábito local.

12 abril 2011

back!

With 2 of my favourites allies.

09 março 2011

inspiração

Nasceu em Angola, cresceu em Portugal e está cá há quase uma década. Fala que nem um Moçambicano puro, tanto no sotaque, como nas expressões e tiques orais (aqui o pessoal dá uns gritos enquanto fala...); assina-se Angolano e eu continuo a achá-lo Português, que foi como o conheci.
É talvez daqueles casos em que Lusíada é a palavra que melhor o define. E não só por expôr no Instituto Camões cá do burgo.

Logo à tarde vou ver o que ele tem para mostrar desta vez.

18 fevereiro 2011

para dentro cá fora

Aqui ao lado existem paisagens inesperadamente parecidas com aquelas a que nos habituámos na nossa Lusa terra. Estas prolongam-se para além do que se vê e vão até ao que se pode saborear.
À distância, a viagem de ontem poderia ser descrita como uma deslocação ao longo de um qualquer IP do interior beirão, com direito a velocidades consideráveis (o Toyota não dava mais, eu bem que tentei...), com uma vista sobre a planície alentejana; para nos sentirmos ainda mais em casa, a era-nos dada oportunidade de reabastecer numa estação de serviço que nos é familiar. Claro que visto mais de perto, embora não muitas, as diferenças surgem, e deixam transparecer que a mão de obra daqui é mais barata (são muitos, lavam gratuitamente o vidro e verificam o óleo) e as pessoas até são sorridentes.
Ao almoço, num restaurante cuja decoração era constituída pela mais pirosa faiança nacional, que fazia publicidade em português a vinho alentejano e onde o prato do dia era chanfana de cabrito, optámos pelo muito bem confeccionado bife de alcátra, acompanhado por uma Sagres bem gelada.
De regresso a casa, a paisagem volta ao habitual. Aqui, as vacas, em vez de deixadas em liberdade no pasto, são obrigadas deitar-se na traseira de uma pick-up para serem transportadas (sim, estava bem viva). Em maior conforto que muitos...

28 janeiro 2011

life's a bitch

Depois da primeira hora e meia quase parados na fila que contemplava as obras que nos impediam de prosseguir, foram mais cinco as horas que precisámos para chegar ao destino, uns vinte minutos para lá de Inhambane.
A estrada estava em muito bom estado, razoavelmente sinalizada e extremamente vigiada, com radares que medem a velocidade e que fotografam as viaturas que excedem os limites. Não faço ideia de qual o valor das multas, uma vez que os simpáticos agentes da autoridade resolveram tudo entre sorrisos e "entre nós", de forma mais célere, cómoda e barata para o automobilista: duzentos paus e seguimos caminho, em novo excesso de velocidade.
À medida que os quilómetros iam passando e avançávamos por Gaza, a paisagem africana que eu sempre imaginei começou a aparecer à nossa frente e a rodear-nos; diferente daquela que se pode ver aqui no sul, a vegetação conta com muito mais palmeiras (ou coqueiros: como diria um entendido, à distância as arecales são todas parecidas), e é bem mais densa.
Também a população aparente uma muito maior densidade que a sul e enquanto que a caminho da fronteira de Komatipoort podemos andar uma meia hora sem ver qualquer peão, este percurso é totalmente diferente: quase que nem sequer conseguimos parar o carro para podermos procurar a privacidade da parte de trás de uma qualquer areca de maior porte.
Acabámos por chegar já depois do Sol se ter escondido do nosso lado esquerdo, apenas a tempo de jantar: a tempo de um excelente jantar. A paisagem ia ficar para a manhã seguinte.


Depois... bem, depois foi uma chatice... A paisagem era isto e não era preciso fazer rigorosamente nada, estava tudo incluído - até mesmo o transporte até ao quarto num carro de golfe, que a gerência não queria que o cliente se cansasse... A sério, foi chato.
Tão chato, que foi preciso variar da paz absoluta, dos peixes que nadavam por debaixo da casa, dos mergulhos quase directos da cama para a água da baía... e tivemos que largar o quarto e ir até à praia. Por mero acaso e com uma grande dose de sorte, havia a praia de Miramar, mesmo ali a menos de um quilómetro. E não, o carro de golfe não ia até lá, tínhamos que ir de carro - mas o carro de golfe levava-nos até ao carro, a tal preocupação com o cansaço, que o cliente já não é jovem e os 42º não ajudam.
A praia... a praia não era má de todo. Estendia-se por uma vintena de quilómetros e, sem que a tivéssemos sequer reservado, estava por nossa conta. O mar, embora um pouco agitado, permitia que se nadasse, o que acabava mesmo por ser necessário se quiséssemos refrescar-nos, já que na zona menos profunda a água insistia em manter-se acima dos 30º.
Final da tarde, maré alta, era tempo de regressar àquele lugar chato dos mergulhos e fazer tempo para ir até onde um verdadeiro chef preparava um excelente jantar à luz da vela e ao som de uma marrabenta tocada ao vivo. E espantosamente livre de insectos, apesar da envolvente pantanosa.
A pior parte estava para vir: o regresso. Não havia vontade para as mais de seis horas necessárias para percorrer os quinhentos quilómetros de regresso à realidade, e ainda menos vontade para encarar uma nova segunda-feira, depois daquele fantástico sábado.
É um daqueles lugares onde poderia viver.

18 janeiro 2011

Inhambane

É a cidade capital da província a que dá o nome, cerca de 500 km a norte da capital Maputo.
Conta com cerca de 77 mil habitantes e está localizada no extremo noroeste de uma península, que representa o limite nascente a baía sua homónima, na margem ocidental da qual se encontra a cidade da Maxixe. A margem oriental da península é uma extensa costa de praias no Oceano Índico, que são destino turístico preferencial de muitos moçambicanos e estrangeiros.

Para a semana mostro as fotos.



from Wikipedia

11 janeiro 2011

07 janeiro 2011

cidade fantasma

Acredito que, dada a indumentária desadequada ao clima que o Pai Natal usa e a distância a que nos encontramos do Pólo Norte, o personagem da Coca-Cola opte por deixar a visita a estas paragens para o fim; mas é absolutamente ridículo e um total exagero que a dia 7 de Janeiro os meus restaurantes habituais se encontrem ainda todos encerrados, limitando a minha escolha a uns 2 locais que não seriam a minha primeira escolha. Tal como é o facto de eu estar quase sozinho no escritório...

05 janeiro 2011

cores de inverno

Dizem-me que se confirma.