28 janeiro 2011

life's a bitch

Depois da primeira hora e meia quase parados na fila que contemplava as obras que nos impediam de prosseguir, foram mais cinco as horas que precisámos para chegar ao destino, uns vinte minutos para lá de Inhambane.
A estrada estava em muito bom estado, razoavelmente sinalizada e extremamente vigiada, com radares que medem a velocidade e que fotografam as viaturas que excedem os limites. Não faço ideia de qual o valor das multas, uma vez que os simpáticos agentes da autoridade resolveram tudo entre sorrisos e "entre nós", de forma mais célere, cómoda e barata para o automobilista: duzentos paus e seguimos caminho, em novo excesso de velocidade.
À medida que os quilómetros iam passando e avançávamos por Gaza, a paisagem africana que eu sempre imaginei começou a aparecer à nossa frente e a rodear-nos; diferente daquela que se pode ver aqui no sul, a vegetação conta com muito mais palmeiras (ou coqueiros: como diria um entendido, à distância as arecales são todas parecidas), e é bem mais densa.
Também a população aparente uma muito maior densidade que a sul e enquanto que a caminho da fronteira de Komatipoort podemos andar uma meia hora sem ver qualquer peão, este percurso é totalmente diferente: quase que nem sequer conseguimos parar o carro para podermos procurar a privacidade da parte de trás de uma qualquer areca de maior porte.
Acabámos por chegar já depois do Sol se ter escondido do nosso lado esquerdo, apenas a tempo de jantar: a tempo de um excelente jantar. A paisagem ia ficar para a manhã seguinte.


Depois... bem, depois foi uma chatice... A paisagem era isto e não era preciso fazer rigorosamente nada, estava tudo incluído - até mesmo o transporte até ao quarto num carro de golfe, que a gerência não queria que o cliente se cansasse... A sério, foi chato.
Tão chato, que foi preciso variar da paz absoluta, dos peixes que nadavam por debaixo da casa, dos mergulhos quase directos da cama para a água da baía... e tivemos que largar o quarto e ir até à praia. Por mero acaso e com uma grande dose de sorte, havia a praia de Miramar, mesmo ali a menos de um quilómetro. E não, o carro de golfe não ia até lá, tínhamos que ir de carro - mas o carro de golfe levava-nos até ao carro, a tal preocupação com o cansaço, que o cliente já não é jovem e os 42º não ajudam.
A praia... a praia não era má de todo. Estendia-se por uma vintena de quilómetros e, sem que a tivéssemos sequer reservado, estava por nossa conta. O mar, embora um pouco agitado, permitia que se nadasse, o que acabava mesmo por ser necessário se quiséssemos refrescar-nos, já que na zona menos profunda a água insistia em manter-se acima dos 30º.
Final da tarde, maré alta, era tempo de regressar àquele lugar chato dos mergulhos e fazer tempo para ir até onde um verdadeiro chef preparava um excelente jantar à luz da vela e ao som de uma marrabenta tocada ao vivo. E espantosamente livre de insectos, apesar da envolvente pantanosa.
A pior parte estava para vir: o regresso. Não havia vontade para as mais de seis horas necessárias para percorrer os quinhentos quilómetros de regresso à realidade, e ainda menos vontade para encarar uma nova segunda-feira, depois daquele fantástico sábado.
É um daqueles lugares onde poderia viver.

1 comentário:

Paulo de Almeida disse...

E há, ainda, quem se queixe da vida...

Nós por cá também temos os nossos momentos...
Menos felizes, é certo, mas temos!
Aliás, tirando a praia e a seis horas de caminho, o resto parece-me bastante verosímil por estas bandas!