21 setembro 2011

chapa

“Chapa” é a designação local para um transporte que julgo existir não apenas em Moçambique, mas em África.
O chapa é, oficialmente, um transporte semi-público, qualquer coisa como um táxi colectivo, ou ainda, se quisermos ser simpáticos, um minu-bus para todos. Na realidade, trata-se de um furgão de passageiros, invariavelmente uma Toyota Hiace nas suas diferentes versões (chassis curto, longo, tecto normal, tecto alto, 4x2, 4x4..), homologada localmente para 15 lugares (na Europa seriam nove) e que transportam passageiros dentro de um trajecto pré-estabelecido. Têm uma tarifa fixa que, dependendo do trajecto, varia entre os cinco e os dez meticais – pelo menos aqui na região de Maputo.
Uma vez que a única manutenção que lhes é feita é constutuída pelas múltiplas lavagens de que são alvo (terei que dedicar umas linhas aos lavadores, mas isso será noutra ocasião), o estado de conservação das mencionadas Hiace, que estarão certamente a atingir a maioridade, com uma idade média superior aos 15 anos, é muito pior do que se consiga imaginar, e nem a quantidade imensa de acessórios e autocolantes que lhes colocam parece ajudar. Os autocolantes, para além daqueles que indicam o trajecto, vão desde o nome do condutor, o clube do condutor (têm 3 tentativas para adivinhar qual, para ajudar digo que jogam de vermelho…), a temas religiosos (“Jesus é o Salvador” e outras frases relacionáveis com a IURD); os acessórios vão das inevitáveis jantes brilhantes, a raquetes de ténis presas na grelha frontal, a faróis de outros carros muito mal adaptados, passando pelos necessários arames, que impedem a queda de alguns componentes, indo até ao óbvio equipamento de som, o mais potente que possam comprar.
O chapa é operado por um condutor e por um ajudante, que é quem controla a entrada e saída dos passageiros, abrindo e fechando (nem sempre…) a porta de correr, e quem cobra os bilhetes. Faz também papel de relações públicas, chamando clientes nas paragens oficiosas sempre que os treze lugares sentados (quinze menos o condutor e o ajudante) têm menos que uns 25 ocupantes – nunca contei, mas pela forma como a suspensão do chapa dobra quando vão menos vazios, estimo a capacidade daquelas máquinas indestrutíveis em cerca de 40 almas, sendo que o conceito de “cheio” não existe aqui, cabe sempre mais um, pendurado na porta que não fecha, ou quase fora janela, que abre para alojar o generoso traseiro de uma passageira.
O chapa é também como é vulgarmente conhecido o condutor do dito chapa. Não é necessariamente detentor de carta de condução, mas é de uma forma geral um indivíduo arrojado, sem medo de usar óculos escuros à noite, sem medo de sinais vermelhos, bermas, passeios, outros carros, ou mesmo de peões nas respectivas passadeiras, passando por cima de toda a folha e ao lado de toda a fila de trânsito, proporcionando aos passageiros uma viagem mais célere até ao destino – e a eles próprios a oportunidade de voltar a encher novamente o chapa.
Corajosos são mesmo os passageiros, obrigados a aturar o aroma da axila do vizinho – ou da virilha, consoante a posição, estilo de condução imparável do condutor e os consequentes impropérios dos demais utentes da rodovia, a preferência musical do proprietário, divulgada num volume que esconde qualquer um dos muitos ruídos mecânicos da viatura, e, last but not least, o estado de conservação do chapa: é que, todos os dias, vemos alguns deles a ser empurrados pelos passageiros, que pagaram bilhete para o efeito.

13 setembro 2011